O
Matemático e Pedagogo com especialização em Psicopedagogia,
Valdivino Sousa, explica sobre o distúrbio da
discalculia, que é quando a criança, adolescente, ou até mesmo na vida adulta
tem dificuldade de aprendizagem em fazer cálculos. Na internet encontramos
várias explicações, mas muitas das vezes informações desencontradas e sem
coerência, mas para melhor entendermos o que é discalculia? Essa pergunta é
comum, e existem vários conceitos a até mesmo com respostas prontas, mas sem
objetividade.
Neste
artigo o Matemático Valdivino Sousa aborda o
assunto com mais clareza, bem então vamos a leitura!.
A
Discalculia é um tipo de transtorno de aprendizagem
caracterizada por uma inabilidade ou incapacidade de pensar, refletir, avaliar
ou raciocinar processos ou tarefas que envolvam números ou conceitos matemáticos. Percebe-se desde muito cedo, mas é na escola que todos os sinais e
dificuldades se expressam de maneira clara e explícita, pois as exigências são
maiores e a sequenciação de tarefas que envolvem aritmética e proporções passam
a ser rotineiras.
Em
outras palavras a discalculia é um distúrbio de aprendizagem comum que afeta a
habilidade das crianças de fazer cálculos matemáticos. No entanto, isso não os
afeta apenas na escola. Os desafios também podem criar dificuldades no
cotidiano. A boa notícia é que existem vários exercícios e estratégias que
podem ajudar as crianças a obter as habilidades de que precisam.
Crianças
com este problema de aprendizagem têm problemas com muitos aspectos da
matemática. Muitas vezes eles não entendem quantidades ou conceitos como o
maior contra o menor. Eles podem não entender que o número 5 é o mesmo que a
palavra cinco. (Essas habilidades às vezes são chamadas de sentido numérico).
Crianças
com discalculia também têm problemas com a mecânica de fazer matemática, como
ser capaz de recordar fatos de matemática. Eles podem entender a lógica por
trás da matemática, mas não como ou quando aplicar o que sabem para resolver
problemas de matemática. Eles também lutam com a memória de trabalho. Por
exemplo, eles podem ter dificuldade em manter os números em mente ao fazer
problemas de matemática com várias etapas.
A
discalculia passa por muitos nomes. Algumas escolas referem-se a ela como uma
deficiência de aprendizagem em matemática. Os médicos às vezes a chamam de
desordem matemática. Você pode até ouvir crianças e os pais chamando de dislexia
matemática. (O termo dislexia matemática não é correto, uma vez que a
discalculia e a dislexia não são a mesma coisa).
É
comum que tal condição seja geneticamente determinada tendo relatos parecidos
num dos pais ou em parentes próximos. Não podemos confundir Discalculia com
insegurança cultural que observamos na aprendizagem da matemática ou com má
pedagogia por não ocorrer a completa e/ou suficiente transmissão de conteúdos
de acordo com a idade e a escolaridade.
A
Discalculia é um problema biológico e inato que nada
tem a ver com aspectos do ambiente afetando a capacidade da criança em aprender
matemática. Estudos de imagem e comparações realizadas entre indivíduos com
Discalculia e indivíduos não portadores do transtorno, mostram que os primeiros
apresentam o sulco intra-parietal menor. A dificuldade, por sua vez, ocorre por
vários motivos: incompreensão com a noção de quantidade associada à palavra ou
conceito numérico; dificuldade em usar a linguagem adequada para representar o
número; problemas de espacialidade e proporcionalidade em relação ao número
correspondente; e pouca aptidão para relacionar conceitos matemáticos (como por
exemplo, relacionar porcentagem com divisão e conseguir resolver processos que
envolvem abstração e representação mental).
Sinais e Sintomas de Discalculia
A
discalculia pode causar diferentes tipos de dificuldades matemáticas. Portanto,
os sintomas podem variar de criança para criança. Observar seu filho e tomar notas para
compartilhar com professores e médicos é uma boa maneira de encontrar as
melhores estratégias e apoio para seu filho.
Discalculia
muitas vezes parece diferente em diferentes idades. Ele tende a se tornar mais
aparente quando as crianças envelhecem. Mas os sintomas podem aparecer tão cedo
quanto a pré-escola. Aqui está o que procurar:
Pré-escola
- Tem dificuldade em aprender a contar e ignorar números muito tempo depois que as crianças da mesma idade podem se lembrar de números na ordem correta.
- Apresenta grande dificuldade para reconhecer padrões, como menores a maiores ou mais altos a mais curtos.
- Tem problemas para reconhecer símbolos numéricos (dificuldade para compreender que “7” significa sete).
- Não parece entender o significado da contagem.
Ensino Fundamental
- Tem dificuldade em aprender e lembrar fatos matemáticos básicos, como 2 + 4 = 6.
- Sofre para identificar +, – e outros sinais, e para usá-los corretamente.
- Pode ainda usar os dedos para contar em vez de usar estratégias mais avançadas, como a matemática mental.
- Luta para entender palavras relacionadas a matemática, como maior e menor que.
- Tem problemas com representações visuais e espaciais de números, como linhas numéricas.
Ensino médio
- Tem dificuldade em entender valores.
- Tem problemas para escrever números claramente ou colocá-los na ordem correta.
- Tem problemas com frações e com medidas.
- Encontra dificuldade em acompanhar a pontuação em jogos esportivos.
Universidade e vida adulta
- Luta para aplicar conceitos de matemática ao dinheiro, incluindo estimar o custo total de uma compra, fazer mudanças exatas e descobrir uma dica.
- Tem dificuldade em entender as informações mostradas em gráficos ou planilhas.
- Tem dificuldade em medir coisas como ingredientes em uma receita simples ou líquidos em uma garrafa.
- Tem problemas para encontrar abordagens diferentes para o mesmo problema de matemática.
- Dificuldade em compreender o tamanho, medir uma distância ou quantidade de uma determinada substância.
A
discalculia pode criar desafios em mais áreas além do aprendizado. Ela pode
afetar também as habilidades diárias como interações sociais e gerenciamento de
tempo.
A Discalculia pode, na avaliação neuropsicológica, ter déficits em algumas habilidades
cognitivas
Isso
é verdade, porém, sem comprometimento da inteligência ou do nível intelectual.
Aliás, estas crianças são muito inteligentes e capazes para a escola, mas
surpreendentemente não conseguem manter o mesmo padrão para as atividades
matemáticas estejam elas onde estiverem, na geografia ou nas ciências, nas
artes ou na educação física. O diagnóstico requer avaliação multidisciplinar
com o envolvimento de especialistas nas áreas de psicopedagogia,
neuropsicologia e neuropediatria. Não existem exames de imagem ou de
laboratório para confirmar, somente sendo concluído mediante testes e
correlações com a evolução pedagógica e seu comportamento com os números no
cotidiano.
Quanto
ao tratamento, não existem medicações, exceto quando há TDAH associado. Ademais, é baseado em
intervenção precoce, adaptação curricular e suporte psicopedagógico. A escola
deve compreender a dificuldade e fazer modificações no conteúdo, visando
facilitar a aprendizagem da matemática utilizando-se de materiais concretos
para ensiná-la. O apoio psicopedagógico ajudará a criança a entender sua
dificuldade e manejá-la da melhor forma possível incluindo estratégias
metacognitivas. Não existe “cura” para esta condição e o portador deverá
aprender a lidar com o transtorno.
Outros transtornos que podem ocorrer junto com a Discalculia?
Crianças com problemas de aprendizagem e atenção muitas vezes possuem mais de um distúrbio ao mesmo tempo. Além disso, os sinais de alguns transtornos podem se confundir com os sintomas de discalculia.
O
teste de discalculia deve ser feito como parte de uma avaliação completa. Dessa
forma, qualquer outro problema de aprendizagem e atenção pode ser diagnosticado
ou desconsiderado.
Aqui
estão alguns quadros que muitas vezes aparecem juntamente com a discalculia:
Dislexia
As
crianças com frequência têm dislexia e discalculia. Na verdade, os
pesquisadores descobriram que entre 43 e 65 por cento das crianças com deficiência
em matemática também possuem deficiências em leitura.
TDAH
Discalculia
e TDAH também podem ocorrer ao mesmo tempo. Algumas
vezes, as crianças cometem erros de matemática por conta dos desafios
relacionados ao Déficit de Atenção. Elas podem ter problemas para prestar
atenção aos detalhes, por exemplo. Por isso, alguns especialistas recomendam a
reavaliação das habilidades matemáticas depois de ter sintomas de TDAH sob
controle.
A
discalculia também pode estar associada a algumas desordens genéticas, como a
Síndrome do X Frágil ou Síndrome de Martin-Bell, Síndrome de Gerstmann e
Síndrome de Turner.
Possíveis Causas da Discalculia
Os
pesquisadores não sabem exatamente o que causa discalculia. Mas identificaram
certos fatores que indicam que ela está relacionada à forma como o cérebro é estruturado e
funciona.
Aqui
estão algumas das possíveis causas da discalculia:
Genética
Pesquisas
mostram que parte da diferença nas pontuações de matemática das crianças pode
ser explicada pelos genes. Em outras palavras, a herança genética pode ter um
impacto sobre se uma criança tem discalculia. Discalculia tende a ocorrer em famílias, o que também
sugere que os genes desempenham um papel.
Desenvolvimento do cérebro
Estudos de imagem cerebral mostraram algumas
diferenças na função e estrutura cerebral de indivíduos com discalculia. As
diferenças estão na área de superfície, espessura e volume de certas partes do
cérebro. Há também diferenças na ativação de áreas do cérebro associadas ao
processamento numérico e matemático. Essas áreas estão ligadas a
habilidades-chave de aprendizagem, como memória e planejamento.
Ambiente
A discalculia foi associada à síndrome do
alcoolismo fetal. A prematuridade e o baixo peso ao nascer também podem
desempenhar um papel na discalculia.
Lesão cerebral
Estudos mostram que lesões em certas partes do
cérebro podem resultar no que os pesquisadores chamam de discalculia adquirida.
Não
está claro o quanto essas diferenças cerebrais são moldadas pela genética e
quanto pela experiência. Mas os pesquisadores estão tentando aprender se as
intervenções podem “reprogramar” o cérebro para facilitar a matemática. Este
conceito é conhecido como neuroplasticidade.
Como é feito o diagnóstico
Para
descobrir se uma criança tem discalculia, você precisará avaliá-lo. Existe um
conjunto de testes direcionados para o diagnóstico de discalculia. Mas eles
devem ser dados como parte de uma avaliação completa que analisa outras áreas
também. Certas questões de aprendizagem e atenção muitas vezes ocorrem com a
discalculia. Portanto, é importante ter uma imagem completa do que está
acontecendo para fazer um diagnóstico adequado.
Profissionais especializados
Há uma série de profissionais que estão habilitados
a realizar essas avaliações. Eles incluem psicólogos escolares ou
psicopedagogos, psicólogos infantis e neuropsicólogos.
Um psicólogo também
pode procurar outras questões que possam ter um impacto. Estes incluem TDAH e
problemas de saúde mental, como
ansiedade e depressão. (Crianças
com problemas de aprendizagem são mais propensos a ter esses problemas do que
outras crianças).
O
psicólogo avaliador pode pedir um histórico familiar. E você pode ser
solicitado a preencher questionários sobre os pontos fortes e fracos do seu
filho. O professor de seu filho também pode ser questionado sobre o que ele vê
na sala de aula.
Um
diagnóstico permite que a criança obtenha apoio e serviços diferenciados na
escola. Ela pode obter instruções especiais em matemática, por exemplo. Ela
também pode obter acomodações para facilitar a aprendizagem de matemática.
Como os profissionais podem ajudar na Discalculia
Diferentes
tipos de profissionais podem ajudar as crianças com discalculia de diferentes
maneiras. Alguns podem trabalhar em um ambiente escolar, enquanto outros trabalham
em ambiente privado.
Aqui
estão alguns tipos de profissionais que podem ajudar seu filho:
- Professores de educação especial;
- Tutores de matemática ou terapeutas educacionais;
- Psicólogos infantis;
- Psicopedagogos;
- Neuropsicólogos.
Estratégias
Há
uma série de estratégias que os professores usam para ajudar as crianças com
discalculia. (Você pode tentar isso em casa, também). Aqui estão alguns
exemplos:
- Utilizar exemplos concretos que conectam matemática à vida real, como os botões de classificação. Isso pode ajudar a fortalecer o sentido dos números do seu filho;
- Usar auxílios visuais ao resolver problemas. Seu filho pode desenhar imagens ou mover objetos, por exemplo;
- Usar papel milimetrado para ajudar a manter os números alinhados;
- Utilizar um pedaço de papel extra para cobrir a maior parte do que está em uma folha de matemática ou teste para que seu filho possa se concentrar em um problema por vez.
Sobre o Autor

Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Psicanalista e Escritor. Criador do método X Y Z que facilita na aprendizagem de equação e expressão algébrica com objetos ilustrativos. Autor de mais de 15 livros e têm vários artigos publicados em revistas e jornais. É programador Web e editor do blog Valor x Matemática News, Produtor de Conteúdo e Colunista Mtb 60.448. Semanalmente escreve para o portal D.Dez e Opa! Já Publiquei, sobre: Comportamento, Educação Matemática e Desenvolvimento da Aprendizagem. E-mail: valdivinosousa.mat@gmail.com Whatsap: 11 – –9.9608-3728 Veja Biografia