A
mãe de todas as Ciências: Louco por matemática é assim que define os
matemáticos premiados no Congresso dos matemáticos no Rio de Janeiro. Ou a mais exata das ciências é sexy, divertida e vital
para desvendar os grandes enigmas da humanidade. O gênio pop Cédric Villani
assina embaixo.
Prazer - Villani: “A frustração é o pão de cada dia
do matemático. Isso torna o momento eureca mais pleno”
Reconhecido como um dos grandes matemáticos de seu
tempo, o francês André Weil (1906-1998), dono de produção intensa e verve
afiada, comparava o momento em que lhe vinha a solução de um problema ao prazer
sexual.
E adicionava
ao raciocínio um adendo superlativo: “Só que neste caso ele dura horas, até
dias”. Germinada na Antiguidade e elevada às alturas pelos cérebros
pós-renascentistas, a matemática é uma ciência na qual se navega quase sempre
no escuro, sem nenhuma garantia de resolução dos grandes enigmas que ela impõe.
Quando um é solucionado — ah, que prazer —, tudo pode mudar.

Pessoas de diferentes épocas mergulharam nesse
território de alta abstração para desvendar o mundo concreto. Com escassez de
ferramentas, o grego Eratóstenes (276-194 a.C.) aventurou-se no primeiro
cálculo da circunferência da Terra. No século XVII, o astrônomo francês Jean
Richer observou que um pêndulo balançava ligeiramente mais devagar em Caiena,
na Guiana Francesa, do que em Paris e… eureca! Ali estava a base para que o
inglês Isaac Newton deduzisse que a Terra é um tantinho achatada nas
extremidades polares. No começo do século XX, a matemática empurrou o genial Albert
Einstein na formulação de sua teoria sobre a existência dos átomos.
Para o Matemático Valdivino Sousa, criador do
método XYZ que facilita na aprendizagem de equação e expressão algébrica, “o
que prejudica os demais pesquisadores é a questão da idade, pois existem muitos
matemáticos brilhantes acima dos 40 (quarenta) anos que poderiam concorrer à
premiação”,
“Trata-se de um terreno em que o fervor criativo da
juventude pode suprir experiência e técnica. Portanto, faz sentido que a
medalha Fields, o Nobel da área, seja concedida acima dos 40 anos, faixa em que
algumas mentes brilhantes ainda conseguem abrir novas portas para o saber”,
explica Valdivino Sousa.
É o caso do francês Cédric Villani, de 44 anos,
laureado aos 37 e certamente o mais pop do seleto grupo de sessenta medalhistas
formado a partir de 1936. Apelidado de “Lady Gaga da matemática”, Villani tem
visual inconfundível — lenço de seda no lugar da gravata, relógio de bolso e um
broche em formato de aranha preso ora na lapela, ora no cabelo desalinhado — e
um modo de falar da matemática que conversa com a maioria dos terráqueos.
Professor e deputado da Assembleia Nacional francesa, ele está no Rio de
Janeiro para participar do Congresso Internacional de Matemáticos. Sem a aranha
e com um convencional suéter de gola rolê, Villani falou a VEJA.
A matemática é sexy? Ela mexe
com dois fatores bastante atraentes — surpresa e poder. Um dia você se vê na
escuridão, angustiado com um problema. De repente, acha a resposta e sua
aventura intelectual é premiada. O poder está na possibilidade que a matemática
dá de se encontrarem soluções universais para grandes questões que mobilizam a
humanidade.
O senhor pode citar exemplos de algumas dessas
questões? Todas as empresas de tecnologia do Vale do Silício estão fincadas sobre
algoritmos. Através deles, também é possível descobrir padrões de propagação
das fake news — área, aliás, em que há muito que avançar. A matemática
tem sido usada ainda no desenvolvimento de programas de inteligência artificial
que tentam reproduzir o aprendizado humano.
Se a matemática é tão atraente, por que é detestada
nas escolas? Prevalece a ideia de que o aluno precisa dominar a
técnica para depois aplicá-la. E dá-lhe regras chatas, maçantes, sem sentido
evidente. Pense numa criança que quer aprender a pintar: ela precisa saber
segurar um pincel e entender da nuance das cores, é claro, mas só desenvolverá
mesmo suas habilidades pintando. Não compreendo por que com a matemática não é
assim.
Como romper o marasmo das aulas? Lição
número 1: a rigidez das regras ensinadas na escola é a morte da matemática. As
crianças precisam entender o sentido do que estão fazendo e ser incentivadas a
procurar as respostas de enigmas à base de criatividade, como vemos nas
histórias de Hercule Poirot e Sherlock Holmes.
Viver da matemática é divertido? A
frustração é o pão de cada dia do matemático. Não há um só dia em que eu não
experimente um pouco desse sentimento. Mas é justamente o sofrimento que torna
o momento eureca mais pleno. Pode acontecer em qualquer lugar. Uma vez me deu o
clique em uma viagem de trem entre Lyon e Paris. Comecei a escrever feito
louco, pondo a ideia no papel para que não escapasse.
Cite um matemático por quem nutre especial
admiração. Johann Gauss (alemão, 1777-1855) com certeza está entre os
grandes. A chamada Curva de Gauss é definida como a suprema curva da
irracionalidade. Ela ajuda a descrever o mundo à nossa volta, mostrando que até
mesmo fenômenos aleatórios, como a frenética movimentação dos átomos, são
regidos por certas leis. É sublime.
Matemática combina com religião?
Curiosamente, a proporção de matemáticos que acreditam em Deus é maior do que
em outros campos científicos. A matemática vive da busca pelas regras máximas,
e nisso há alguma espiritualidade. Sou agnóstico.
O que explica o fato de a França ser o país número
1 de medalhas Fields per capita? Há quatro coisas que os franceses fazem muito bem:
amor, vinho, reclamação e matemática. O apreço pela ciência tem a ver com uma
cultura que historicamente valoriza o universalismo e a abstração.
Por que o senhor decidiu entrar para a política? Depois
da medalha Fields, ganhei status de celebridade e Macron (presidente francês)
me convenceu a tentar uma vaga no Parlamento. A matemática precisa entrar na
pauta: o líder que não olhar para ela terá uma política fraca. Organizei um
jantar no Palácio do Eliseu com especialistas do mundo todo. Macron não é
matemático, mas entende sua importância sob o prisma da filosofia e da
política.
O senhor gosta do apelido “Lady Gaga da
matemática”? Não me incomoda em nada. Acho engraçado.
Esquadrão de gênios invade a Guanabara
NO PANTEÃO – Os medalhistas Fields 2018 (da esq.
para a dir.): Birkar, Figalli, Scholze e Venkatesh
NO PANTEÃO – Os medalhistas Fields 2018 (da esq.
para a dir.): Birkar, Figalli, Scholze e Venkatesh (Marcos Michael/VEJA)
Desde a quarta-feira 1º, o Rio de Janeiro é o
centro das atenções do mundo da matemática.
A cidade sedia o prestigiado Congresso
Internacional de Matemáticos (ICM, na sigla em inglês), que ocorre a cada
quatro anos. Pela primeira vez, o evento, criado em 1897, será realizado na
América Latina — um feito e tanto para o Brasil, tradicionalmente mal colocado
nos rankings de desempenho escolar na disciplina. Apesar da nota vermelha nas
salas de aula, o país vem registrando tremendo progresso no rarefeito olimpo da
matemática avançada e acaba de ser admitido no grupo de elite da União
Matemática Internacional, ao lado de Alemanha, China, Estados Unidos, França e
Rússia, entre outras nações.
“Em termos de pesquisa científica, inexistente no
país até os anos 1950, nós saímos da base para o topo em pouquíssimo tempo.
Isso ajudou na escolha da sede deste ano”, diz Marcelo Viana, organizador do
congresso e diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), mola
propulsora do salto brasileiro para a estratosfera científica.
As 1 200 palestras e demais atividades do ICM
atraem 2 800 especialistas ao Rio, entre eles doze ganhadores do equivalente ao
Nobel da matemática, a medalha Fields, que o carioca Artur Avila, em conquista
sem precedentes no país, pendurou no peito em 2014, em Seul. A cada congresso,
quatro matemáticos são chamados ao palco, no dia da abertura, para receber a
honraria. Neste ano as medalhas foram para Alessio Figalli, de 34 anos,
italiano especialista em equações diferenciais que dá aulas na renomada Escola
Técnica Federal de Zurique; Akshay Venkatesh, de 36 anos, indiano criado na
Austrália que obteve seu Ph.D. aos 20 anos e trabalha com a teoria dos números
no MIT; o alemão Peter Scholze, de 30 anos, especialista em geometria algébrica
aritmética, que aos 24 se tornou professor titular da Universidade de Bonn; e
Caucher Birkar, de 40 anos, iraniano radicado na Inglaterra que pesquisa
geometria algébrica. Detalhe triste: Birkar teve meia hora para curtir sua
Fields. A pasta com carteira, celular e a medalha, deixada sobre uma mesa, foi
roubada. Recuperada, só continha o celular. Mesmo em seu momento de cidade de
gênios, o Rio continua sendo o Rio.
Fonte: Veja
Fonte: Veja
Sobre o Autor

Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Psicanalista e Escritor. Criador do método X Y Z que facilita na aprendizagem de equação e expressão algébrica com objetos ilustrativos. Autor de mais de 15 livros e têm vários artigos publicados em revistas e jornais. É programador Web e editor do blog Valor x Matemática News, Produtor de Conteúdo e Colunista Mtb 60.448. Semanalmente escreve para o portal D.Dez e TOP 10 News, sobre: Comportamento, Educação Matemática e Desenvolvimento da Aprendizagem. E-mail: valdivinosousa.mat@gmail.com Whatsap: 11 – –9.9608-3728 Veja Biografia